Sobre los dichos de Mitre (y reportaje completo en Veja)



Hace muchos años (allá por 1985) hubo un acto en el Luna Park para juntar fondos (y conciencia) a favor de una guardería entre los wichi. Era un lunes a la noche, y allí fui. Recuerdo que como a la una o dos de la mañana, algunos sectores de izquierda, contentos con el acto, supongo, empezaron a cantar “si este no es el pueblo, el pueblo, ¿dónde está?”. Para mis adentros pensaba: “el pueblo está en la cama, apolillando, que mañana madruga para laburar”.

Curioso que los “autoconvocados” (o “clarinconvocados”) del 8N, aún conscientes de ser el 46% (que es obvio no lo son, pero me refiero a su “autoproclamación”) también cantaban: “si este no es el pueblo, el pueblo, ¿dónde está?”. Parece que muchos sectores o grupos se arrogan, (o para convencerse) ser “el pueblo”. Claro que decir eso supone ignorar a los que “apolillan para ir a laburar”, o al 54%, por ejemplo, y por decir algo. Me hace acordar a los que en nombre del “respeto por las minorías” avasallaron a “las mayorías”, prohibiéndoles incluso votar, o votas a quién ellos querían. O tempora, o mores!


Ahora un “autoproclamado” demócrata, como Bartolomé Mitre (de lamentable homónimo, debo decirlo) habla de dictadura y democracia. No sólo ante el mismo 8N “La Nación” hizo una “confesión de fe” democrática (leímos bien, ¡La Nación!, la misma del genocida de dignos paraguayos en la Triple e infame Alianza, la misma defensora de cuanto golpe militar sufrimos, la misma que hizo negocios con Papel Prensa, la misma que junto con su socio Clarín, ahogó diarios del interior para luego comprarlos, esa misma, ahora habla de “democracia”). Dejo de lado que el señor Mitre, que critica expresamente a Perón en el artículo se toma el tupé de decir que Cristina no es peronista, y la compara con Evita (desconocía la cualidad peronométrica del señor). “Ni con Perón ni con los militares nos pasó algo así”, parece querer decir “en dos dictaduras”, lo que es coherente con La Nación (o a lo mejor quiera decir que “nunca nos pasó que tengamos que cumplir con la ley”). 

Es decir, y acá el tema: Mitre, que desprecia a los pobres y la clase baja (que apoyan a Cristina, según dice y con eso cree criticarla) sólo parece reconocer como auténtico “demos” (=pueblo) a los que piensan como él. No sólo es peronómetra, es también populómetra el doctor. Dejo de lado la complicidad de las preguntas de la revista Veja, dejo de lado las profecías de Mitre que ya empezaron a no cumplirse (me hizo acordar a Carrió, curiosamente), para Mitre solo hay dos grupos: una elite que “piensa de una manera” y una clase baja (la clase media, esa que crece y crece según sus amigos del Banco Mundial, no cuenta para Mitre... parece) “no se informa, no escucha, y no toma conciencia” y sigue a Cristina. ¿Se puede tener más desprecio por los pobres? Es que parece que para Mitre, y para sus “empleados” Morales Solá, Grondona, Sarlo, Pagni, y demás –pateadores de puertas incluidos- si el pueblo no dice, no piensa, no toma conciencia y no se informa en “La Nación”, es despreciable. Y es una “dictadura con votos”. 

Realmente me he acostumbrado en estos días a esas cosas casi cómicas: Cobos hablando de traición. Clarín de la plata de los jubilados, Barreda caceroleando por seguridad, y Mitre contra la “dictadura con votos”. ¿Cuándo será que volveremos a los buenos tiempos del partido militar y los obispos en consuno haciendo lo que “la tribuna de doctrina” (que no es “periodismo militante”, ¡válgame Dios!) sea la que marque los rumbos de la patria, y los presidentes vayan al día del Ejército, a los Tedeum y a la Rural a recibir instrucciones, previamente escritas en los escritorios Mitre, o en los de aquellos que ya escribieron otros discursos, para otros decretos, para otras cadenas nacionales. Pueblo era el de antes, Mitre... tiene razón. Pueblo al que se le decía “usted ya votó”, o en el que pobres y mujeres no podían hablar. 

Ellos a cuidar –en negro, claro- “mis campos” y ellas “a lavar los platos” y no seguir los perversos ejemplos de “esa mujer” que les hizo creer que podían votar. Ese es el pueblo, Mitre... esa es la verdadera democracia: “hágase tu voluntad”.

Texto completo del reportaje en Veja a Bartolomé Mitre

ARGENTINA — Bartolomé Mitre, dono do jornal independente “La Nación”: “Vivemos uma ditadura com votos. A Argentina está imitando a Venezuela”

Bartolomé Mitre: "Na Argentina, quem conta a verdade passa a ser considerado de oposição" (Foto: Cedoc)

Entrevista concedida a Nathália Watkins, publicada na edição impressa de VEJA que está nas bancas

UMA DITADURA COM ELEIÇÕES

O diretor do jornal argentino La Nación relata como a tentativa do governo de acabar com a liberdade de expressão o colocou na posição de defender o seu maior concorrente

Criado em 1870, o jornal La Nación já foi fechado pelo governo argentino cinco vezes, a última delas em 1901. De veia liberal, foi na segunda metade do século XX um antagonista do peronismo, o movimento inspirado no presidente Juan Domingo Perón (1895-1974). Essa linha política atraiu ataques vindos dos últimos ocupantes da Casa Rosada.

Na segunda-feira passada, o jornal chegou a ser impedido de circular por sindicalistas pelegos. Desde 2008, o concorrente Clarín também sofre com as retaliações da presidente Cristina Kirchner. “É um panorama sombrio. Nunca havíamos passado por algo parecido”, diz Bartolomé Mitre, sócio e diretor do La Nación. Ele carrega o nome do trisavô, que fundou o diário e foi presidente da Argentina entre 1862 e 1868.

O que a presidente Cristina Kirchner está fazendo para controlar a imprensa?

Cerca de 80% dos canais de televisão, dos jornais e das rádios já estão a mando do governo. Em um primeiro momento, a intenção é conseguir o controle total dos canais de televisão abertos.

O Canal 13, que pertence ao grupo Clarín, é o único com cobertura nacional que pode ser considerado independente. A partir de 7 de dezembro, o grupo terá de se submeter à Lei de Mídia, aprovada por um Congresso kirchnerista em outubro de 2009. A lei exige que a empresa venda sua subsidiária de TV aberta.

O mais provável e que sejam concedidos trinta dias ao Clarín para que se adapte à norma. Findo esse período, todos os canais abertos no país serão monotonamente iguais, com a agenda definida pelo Estado, e não poderão contar a verdade sob o risco de ser tachados de oposição e de perder as gordas verbas publicitárias do Estado.

Será o fim da liberdade de expressão nos meios audiovisuais. O passo seguinte será o domínio dos veículos impressos. O governo já declarou que a venda de papel-jornal é de interesse público e pretende expropriar a Papel Prensa, nossa maior fábrica do insumo. Haverá cotas para importar a matéria-prima no exterior e para comprar papel nacional.

O Poder Executivo poderá determinar quantas páginas terá cada publicação. É um panorama muito sombrio. Nunca havíamos passado por algo parecido.

O governo e muitos argentinos afirmam que essa lei serve para democratizar as comunicações.

A Lei de Mídia não tem nada disso. O objetivo é simplesmente calar os jornalistas que narram a realidade do país e escrevem textos críticos.

Hoje, apenas o La Nación, o Clarín e uns poucos jornais podem dizer o que querem. Os veículos do interior, menores, não têm mais essa capacidade. Eles não conseguem, como nós, sobreviver apenas com os anunciantes privados.

Nós temos zero de publicidade oficial. Somos independentes. No interior, infelizmente, os jornais agora são todos bancados por anúncios do Estado. Não podem escrever sobre uma série de temas. Servem como meros porta-vozes do governo.

Não é normal ter regras que impeçam o monopólio na TV, um setor que depende de concessão pública?

A questão é que Cristina Kirchner cria as normas que bem entende, apoiada por um Congresso submisso. Suas leis têm objetivos políticos bem definidos e não são aplicadas de maneira igual a todas as empresas.

Há conglomerados quase tão grandes quanto o Clarín, mas ninguém fala em obrigá-los a se adaptar à nova Lei de Mídia, porque são amigos do governo.

O grupo Uno está em mais de 75% das províncias do país e tem setenta veículos de comunicação, incluindo TV aberta, a cabo, estações de rádio, internet e telefonia. Como seus donos são amigos da presidente, não são incomodados.

Tampouco acho que o Clarín tenha poder demais. O cerceamento à liberdade de imprensa em nosso país afeta a todos. A liberdade do Clarín é a liberdade de toda a imprensa argentina. Estou em permanente contato com eles. Somos concorrentes, mas temos boas relações.

Primeira página em branco: protesto contra boicote à distribuição do jornal em março do ano passado (Foto: oglobo.globo.com)

Além de cortar os anúncios estatais e de ameaçar restringir o fornecimento de papel, como o governo tem prejudicado o La Nación?

Somos criticados duramente. Na Argentina, quem conta a verdade passa a ser considerado de oposição. A presidente Cristina diz publicamente coisas infundadas sobre jornalistas do La Nación. Cita o meu nome e o de Héctor Magnetto, diretor executivo do grupo Clarín, como se fôssemos responsáveis por todos os problemas do país. É muito desagradável.

Além disso, jornalistas do La Nación e do Clarín são maltratados constantemente. Em um texto, nosso colunista Carlos Pagni disse que Axel Kicillof, vice-ministro da Economia, era marxista. Cristina rebateu o artigo e declarou que “a direita sempre teve algo de antissemita” (Kicillof é judeu). Essa postura da presidente não é normal em uma democracia.

Se os três Poderes funcionam em sua totalidade, não há razão para que o Executivo ataque diretamente os jornalistas. O Legislativo e o Judiciário se encarregariam de possíveis excessos. Temos o direito de nos sentir injustiçados e preocupados. Tudo isso é muito grave.

Aguardamos uma audiência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) para saber como os juristas internacionais se posicionarão em relação aos ataques.

Por que Cristina Kirchner quer tanto calar o Clarín?

Alguns dizem que é porque o jornal foi contra uma lei, a resolução 125, que elevava os impostos sobre as exportações agrícolas, uma medida desastrosa para os plantadores de soja. O Clarín ficou do lado dos agricultores, que protestavam contra o governo, e com isso comprou uma enorme briga com Cristina. Outros dizem que o ódio começou quando a presidente quis comprar o jornal e o grupo se recusou a vendê-lo.

Qual é o papel do movimento estudantil La Cámpora, fundado e liderado pelo filho da presidente, Máximo, na repressão à imprensa?

Nunca se viu Máximo Kirchner falar, porque ele não sabe fazer isso. Aliás, ele não faz absolutamente nada. Não sei como ele consegue dirigir seu movimento de jovens, o La Cámpora. É bom ressaltar que não se trata de um grupo enorme, como se pensa. Nas universidades, os camporistas são minoria.

Recentemente, ocorreram eleições para escolher lideranças jovens em três cursos da Universidade de Buenos Aires: direito, ciências econômicas e filosofia. O La Cámpora perdeu tudo. A juventude universitária não está com eles.

De onde vem tanta força, então?

Os jovens do La Cámpora se mobilizam muito e ganharam cargos nas estatais. Seus membros estão presentes em muitas companhias do Estado, como a Aerolíneas Argentinas, estatizada em 2008, e a petrolífera YPF, confiscada neste ano. Todas essas empresas têm quadros do La Cámpora.

No ano passado, os camporistas tomaram a sede da Cablevisión, um canal de TY a cabo pertencente ao Clarín. Na época, o grupo Uno, aliado de Cristina, apresentou uma denúncia de concorrência desleal contra a Cablevisión. Os camporistas entraram na empresa para dar uma amostra do poder da presidente.

Em agosto, pensaram em voltar a tomar o prédio. Não conseguiram porque os empregados e técnicos da Cablevisión fecharam uma rua para defender seus empregos e a companhia em que trabalham. Os funcionários da Cablevisión não querem mais intervenções governamentais.

Sobre Máximo, filho da presidente Cristina e chefe da tropa de choque jovens da presidente, a La Cámpora: "Nunca se viu Máximo falar, porque ele não sabe fazer isso. Aliás, ele não faz absolutamente nada. (...) Os integrantes do movimento receberam muitos empregos em empresas estatais" (Foto: hacer.org)

Por que não existe oposição política na Argentina?

Não se enxerga ainda um caminho viável para que os partidos que não são peronistas possam se unir. Por uma coisinha ou outra, os políticos se recusam a conversar entre si. O mais certo seria que a oposição argentina se unisse, como aconteceu na Venezuela. Nós estamos muito longe disso.

Teremos eleições para senadores, deputados e para alguns governadores de província no fim de 2013, mas os partidos provavelmente vão apresentar candidatos em separado. Em 2015, quando acaba o segundo mandato de Cristina, não sei o que vai acontecer. A maior chance é que a oposição venha de dentro do peronismo. Tradicionalmente, o peronismo tem várias vertentes, de esquerda, centro e direita.

Nos últimos meses, quem se considera peronista autêntico começou a se afastar gradativamente de Cristina. Alguns já se declaram totalmente contra a presidente e a acusam de não ser peronista. O sucessor de Cristina, portanto, deve vir de outra corrente peronista, um pouco mais aberta, mais de centro. Não consigo visualizar outra opção.

Por que os argentinos ainda não abandonaram o peronismo?

A verdade é que este governo não é realmente peronista. O peronismo autêntico é o inspirado em Juan Domingo Perón, em que as massas seguem o seu líder querido. A figura de Perón desapareceu do atual governo. Cristina fala como se fosse a mulher de Perón, Evita (1919-1952).

Não consigo compreender muito bem a mente de Cristina, mas é evidente que com isso ela busca apoio popular. O kirchnerismo é praticamente um partido à parte. Suas políticas, chamadas pelos apoiadores de “o modelo”, são uma versão espantosa do populismo, que abrange tanto a direita quanto a esquerda. Mas não existem muitos argentinos contentes com o tal “modelo”.

A Argentina, a exemplo da Venezuela, caminha para uma ditadura?

Algumas pessoas no país podem viajar e comprar dólares, enquanto outras nada têm e não podem sair do país nas férias. Além disso, as múltiplas táticas para calar os opositores quase acabaram com a dissidência política. Essencialmente, vivemos uma ditadura de votos. É a pior de todas. A Argentina está imitando a Venezuela.

Hugo Chávez e essa mulher venceram as últimas eleições presidenciais com a mesma porcentagem de votos, 54%. A origem do poder dos dois, portanto, é legítima. Mas as constituições e as leis estão sendo violadas e alteradas inescrupulosamente em seus mandatos.

Alguns anos atrás, dizia-se que o que ocorria na Venezuela um dia se repetiria na Argentina. A previsão se confirmou. Embora Cristina não seja carismática como Chávez, a política é a mesma.

"Hugo Chávez e essa mulher venceram as últimas eleições presidenciais com a mesma porcentagem de votos, 54%. A origem do poder dos dois, portanto, é legítima. Mas as constituições e as leis estão sendo violadas e alteradas inescrupulosamente em seus mandatos."

Não há democracia na Argentina?

Cristina usa o argumento da democracia a seu favor, mas não passa de uma farsa. O governo viola a liberdade de expressão. No Congresso, faz o que bem entende. Nem o governo de Perón e a ditadura militar foram tão longe. Tudo parece nascer de Cristina.

O governo não respeita a Corte Suprema ou os juízes. Nas últimas semanas, a Casa Rosada tratou de intimidar todos os magistrados que tentaram avaliar as arremetidas oficiais contra o Clarín. Três deles já recusaram o caso ou foram impedidos de assumi-lo. A Justiça está totalmente debilitada.

Os argentinos são considerados cultos e politizados. Por que deixam isso acontecer?

A Argentina não é mais um país culto. Nada tem sido feito pelo ensino ultimamente. Sempre foi do gosto dos ditadores retirar das pessoas o acesso à informação e ao espírito crítico. Com isso, eles ganham mais votos e se perpetuam no poder. Há no país uma elite que pensa de uma maneira e uma classe baixa que não se informa, não escuta, não toma consciência e segue a presidente. Quanto menos cultura, mais votos Cristina consegue.

O governo está isolando a Argentina do resto do mundo?

A Argentina sempre teve as portas abertas a todos, imigrantes e comerciantes. Cristina é a única entre os argentinos que tem algo contra o mundo. Um exemplo desse rancor está na Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, com expositores de quarenta países.

Cristina disse que o evento, marcado para abril de 2013, deverá ocorrer em Tecnópolis, o parque onde são realizados todos os seus atos políticos. Caso contrário, não haverá subsídios do governo. Cristina usa estratégias como essa para manipular as pessoas.

Neste país, é preciso pedir autorização para tudo. Essa opressão ainda provocará uma reação popular generalizada. Quando saem às ruas batendo panelas, os argentinos deixam claro que estão fartos. Querem liberdade para tocar a própria vida.



Gentileza de Ricardo Capelli
Fuente: Nac&Pop